Toxoplasmose em gatos domésticos

Por Aline Soares Barbosa, Myrian Kátia Iser Teixeira e Cristiano Rodrigo Nicomedes da Silva

•Resumo•
A toxoplasmose é uma zoonose causada pelo coccídeo Toxoplasma gondii. O gato doméstico participa como hospedeiro definitivo no ciclo de vida desse parasita, que também é capaz de infectar seres humanos, seja pela ingestão dos oocistos eliminados nas fezes do gato primoinfectado ou pela ingestão dos cistos teciduais presentes em carne crua ou mal passada. A transmissão transplacentária ou transmamária pode ocorrer tanto nos felinos como nos humanos. Uma vez no organismo do gato doméstico, o parasita pode desencadear o ciclo enteroepitelial, que culmina na liberação de oocistos nas fezes, ou o ciclo extraintestinal, que também ocorre nas demais espécies e culmina na disseminação de taquizoítos para diversos órgãos, principalpalmente o fígado, o cérebro, os pulmões e o pâncreas. Os indivíduos imunocompetentes limitam a replicação de taquizoítos, fazendo com que o protozoário permaneça encistado nos tecidos na forma de bradizoíto. Os sinais observados na toxoplasmose clínica incluem anorexia, vocalização, letargia, hipotermia, dispneia e morte súbita; no entanto, sua ocorrência é pouco comum entre os gatos adultos. Nos exames laboratoriais, não existem alterações patognomônicas associadas à toxoplasmose. O diagnóstico pode ser feito por centrífugo-flutuação das fezes ou por testes de identificação de anticorpos anti-Toxoplasma, como o ELISA, a RIFI e o Western Blot. O tratamento visa reduzir a carga de oocistos eliminados nas fezes e controlar os sinais clínicos, porém os gatos acometidos permanecem infectados por toda a sua vida. A clindamicina é o fármaco de eleição para a forma sistêmica da doença e os corticosteroides são utilizados de forma tópica no tratamento da uveíte causada por T. gondii. Deve-se evitar o oferecimento de carnes cruas ou mal passadas aos gatos e limitar os seus hábitos de caça como medidas profiláticas ao desenvolvimento da toxoplasmose felina. O prognóstico para os gatos acometidos varia de favorável a mau. A toxoplasmose humana deve ser prevenida pela instituição de medidas higiênico-sanitárias.

•Introdução•

A toxoplasmose é uma enfermidade resultante da infecção pelo protozoário coccídeo Toxoplasma gondii (BERGMAN, 2006). O gato doméstico desempenha o papel de hospedeiro definitivo no ciclo de vida desse parasita (LAPPIN, 2004; BERGMAN, 2006; PLATT, 2006), liberando os oocistos em suas fezes (LAPPIN, 2004). Os oocistos tornam-se infecciosos após a esporulação, que ocorre depois de um a cinco dias no ambiente. As pessoas infectam-se por meio da ingestão dos oocistos esporulados ou dos cistos teciduais (LAPPIN, 2004). Trata-se de uma infecção bastante comum entre felinos domésticos e seres humanos de todo o mundo, com soroprevalência variável em cada região, mas comumente na faixa de 30 a 40% (LAPPIN, 2004). Um estudo realizado entre 163 felinos da cidade de Jaguapitã (Paraná, Brasil) demonstrou prevalência de 73%, pelo método de imunofluorescência indireta (GARCIA et al., 1999). Já no estudo realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) com 327 gatos, apenas 0,6% desses animais apresentaram oocistos de Toxoplasma – Hammondia em suas fezes (FUNADA et al., 2007). Os fatores predisponentes à manifestação da doença clínica incluem a imunossupressão devido à infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) ou pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV), a administra- ção de corticosteroides ou quimioterapia e a diabete melito (BERGMAN, 2006). Não há predisposição racial, sexual ou etária para o desenvolvimento da toxoplasmose entre os gatos domésticos, mas DUBEY & CARPENTER (1993) obtiveram em seu estudo uma média de dois anos de idade, entre 100 gatos acometidos pela doença. Já LANGONI et al. (2001) encontraram em seu estudo uma maior prevalência (50%) em gatos entre quinze e dezoito anos de idade. PINTO et al. (2009) apontam o acesso à rua e a idade superior a um ano como fatores predisponentes. A maioria dos gatos tem infecção subclínica pelo T. gondii, mas a doença clínica severa com possibilidade de óbito ocorre em alguns casos. As manifesta- ções clínicas apresentadas pelos felinos acometidos são diversas, e a maioria dos achados em testes diagnósticos não são patognomônicos. Quanto à espécie humana, a doença pode ocasionar manifestações severas em crianças infectadas por via transplacentária e em indivíduos imunossuprimidos

Esse artigo foi cedido gentilmente pelo nosso parceiro Vet Smart e pode ser consultado na íntegra por veterinários e estudantes no site www.vetsmart.com.br .

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