Por Ronald Paiva
Entre as diferentes situações clínicas em que os médicos veterinários se deparam, certamente as emergências representam o maior desafio de atendimento em clínicas e hospitais. Isto se dá pelo somatório do elevado risco de óbito destes pacientes, acrescido à ausência de um local apropriado para o seu atendimento e pela constante falta de proficiência dos profissionais envolvidos.
O primeiro passo a ser dado para a oferta de um serviço de emergência, é a conscientização de que clínicas e hospitais veterinários devem reservar uma área destinada à criação do setor de atendimento de emergências. Tal espaço tem como prerrogativas, ser de fácil acesso à chegada do paciente e pela equipe técnica, e possuir de maneira organizada os equipamentos necessários para as intervenções de suporte básico à vida (ABC da emergência). Utensílios e equipamentos que garantam o acesso e a manutenção respiratória e hemodinâmica devem estar à disposição neste setor, tais como, traqueotubos, laringoscópio, cilindro de oxigênio, aspirador de secreção, ambu, ventilador mecânico, cateteres intravenosos, soluções cristaloides, e os fármacos utilizados em emergências. A monitoração multiparamétrica, em especial o eletrocardiograma, a pressão arterial e a capnografia, também é fundamental para uma conduta apropriada.
Posteriormente e mais importante é a capacitação técnica, a qual estabelece um novo racional de atendimento clínico totalmente diferenciado para os casos emergenciais quando comparado com os pacientes estáveis avaliados em consultório. É bem definido na medicina que o atendimento do paciente emergencial deve ser estritamente pautado em diretrizes de consenso internacionais, pois são consideradas as condutas com maiores chances de sucesso nestes casos. Na medicina veterinária, entretanto, protocolos terapêuticos consensuais direcionados para o paciente grave foram divulgados recentemente apenas e precisam ser incorporados à prática clínica (maiores detalhes, www.acvecc-recover.org).
Por fim, se considerarmos que a recepcionista da clínica ou hospital muitas vezes será o primeiro contato do proprietário, isso deve nos alertar de que não apenas os médicos veterinários, mas os demais profissionais envolvidos necessitam passar por treinamentos específicos de acordo com sua função. Somente assim é possível ter um atendimento eficiente por meio da ação conjunta de uma equipe qualificada.
Do contrário, o risco é elevado do estabelecimento veterinário e seus profissionais agirem com negligência, imprudência e imperícia, favorecendo a perda, potencialmente evitável, de inúmeras vidas.