Novo estudo descobre que os cães não são excepcionais no mundo animal

Um estudo, publicado na revista Learning and Behavior, descobriu que os cães são cognitivamente normais quando comparados a outros carnívoros, animais domésticos e caçadores sociais. “Não há nenhum caso atual para o excepcionalismo canino”, concluem os autores.

As alegações do excepcionalismo canino propagam-se a partir de anedotas sobre a capacidade dos cães “lerem” as mentes de seus tutores, ou de livros sobre como melhorar a inteligência do cão, ou de testes de inteligência canina para “encontrar o gênio em seu cão”.

Alguns estudos aumentam a concepção de que os cães possuem inteligência incomum. Um exemplo notável é uma Border Collie chamada Chaser. Treinada por seu proprietário, o falecido psicólogo John Pilley da Wofford College, Chaser aprendeu os nomes de mais de mil brinquedos. Ela até parece capaz de raciocinar, como demonstrou para o astrofísico Neil deGrasse Tyson no programa de televisão NOVA. Tyson começa ao colocar uma seleção aleatória de brinquedos da cadela atrás de um sofá e lhe pede para recuperar vários deles, o que ela faz com prontidão. Ele, então, acrescenta à seleção um brinquedo que ela nunca viu – um boneco de Charles Darwin. Ele pede a Chaser para encontrar Darwin. Ela anda atrás do sofá e, depois de alguns segundos de hesitação, traz a boneca para um Tyson atônito.

Outra razão pela qual se presume que os cães são dotados é devido à maneira de como o dono do animal se enxerga. Quando se pede às pessoas que se classifiquem em características como inteligência, elas tendem a dar classificações acima da média. Este efeito Lake Wobegon – nomeado em homenagem à cidade fictícia criada por Garrison Keillor, onde “todas as crianças estão acima da média” – se estende aos animais de estimação. Em um estudo publicado no periódico Basic and Applied Social Psychology, os pesquisadores tinham 137 tutores, que avaliaram uma série de características, incluindo inteligência, em seus próprios animais de estimação, como também em outros animais de estimação. Os resultados revelaram que as pessoas classificaram seus pets como acima da média em traços desejáveis ​​e abaixo da média em traços indesejáveis.

No entanto, ao revisar sistematicamente a literatura de cognição animal, os psicólogos britânicos Stephen Lea e Britta Osthaus descobriram que os cães não eram notáveis ​​em suas capacidades cognitivas em comparação com os lobos, gatos, golfinhos, chimpanzés, pombos e várias outras espécies. Por exemplo, os cães não parecem ser os melhores em aprender associações – como entre um comportamento e uma recompensa – do que outras espécies. E enquanto os cães têm um excelente olfato, as “habilidades olfativas do porco são excelentes e podem até ser melhores do que as do cão”.

Ainda mais surpreendente, os cães não parecem ser excepcionais em sua capacidade de perceber e usar sinais comunicativos de humanos. De acordo com a hipótese de domesticação, os cães foram criados para serem especialmente sensíveis aos sinais humanos, como os gestos de mão. Como Lea e Osthaus notam, os cães podem de fato obedecer aos comandos gestuais dos humanos. No entanto, ao contrário da hipótese de domesticação, eles estão longe de serem os únicos com essa habilidade. Por exemplo, os campeões com a capacidade de seguir os gestos das mãos humanas são o golfinho-nariz-de-garrafa e a foca-cinzenta.

Nada disso é para diminuir os benefícios da posse do cão. Eles nos fazem companhia e podem até melhorar a saúde física. Em um estudo publicado no ano passado na Nature Scientific Reports, pesquisadores suecos examinaram a relação entre a posse de cães e a saúde cardiovascular em uma amostra de quase 3,5 milhões de adultos da Suécia. Como parte do sistema público de saúde, o governo sueco mantém registros de visitas hospitalares e causa de morte de todos os cidadãos e residentes do país. Além disso, todos os cães na Suécia devem estar registrados no governo. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram vincular o dado sobre saúde e propriedade de cães.

Mesmo depois dos pesquisadores controlarem estatisticamente a idade, a educação e o nível socioeconômico, os donos de cães tinham uma probabilidade significativamente menor de ter um ataque cardíaco e uma morte por uma doença cardiovascular, do que aqueles sem uma companhia canina. Além disso, esses benefícios da posse de cães eram maiores para pessoas solteiras. Embora enfatizando que os resultados devem ser interpretados com cautela, porque são correlacionais, os pesquisadores sugerem duas possíveis explicações para os resultados. A primeira é que possuir um cão alivia o estresse psicossocial causado pelo isolamento e pela depressão, no qual tem sido associado à doença cardiovascular. A segunda explicação é que os donos de cães, ao levar seus companheiros caninos em caminhadas, são mais ativos fisicamente.

Assim, mesmo que os cães não possam seguir sinais de mão, bem como um golfinho-nariz-de-garrafa, e seu olfato não sejam melhores do que de um porco, seus efeitos em nossas vidas podem ser notáveis.

Fonte: Scientific American